A LEI DO PODER COM QUE SEMPRE DISCORDEI, APLICADA NA ORATÓRIA

Há alguns dias assisti um fenómeno muito espantoso para mim, quando tentava acompanhar a aula de uma profissional da comunicação internacionalmente reconhecida. O que aconteceu é que o título da aula e a introdução da mesma prometiam ensinar sobre um modelo de trabalho para alcançar sucesso na minha área de trabalho. Até aí está tudo bem.

O verdadeiro problema começa quando percebi que a aula tinha a duração de 32 minutos, e a professora literalmente passou 18, dos 32, ainda a fazer a introdução. Alguém ao meu lado olhava para a minha cara de cansaço e dizia: “pois é, parece que escolheste uma professora fanfarrona, e só por ela falar tão demasiado é bem provável que saiba muito menos do que aparenta”.

O meu respeito pela senhora era grande demais para que eu chegasse a essa conclusão sozinho, ou até para que eu aceitasse aquela afirmação. E por horas essa reflexão foi ocorrendo na minha mente até que lembrei-me de uma das 48 Leis do Poder de Robert Greene e Joost Elffers com a qual sempre discordei e que, à primeira fez-me não gostar muito do livro. “Diga sempre menos do que o necessário”. Esse é o comando que Greene e Elffers dão, e que criou-me algum desinteresse em ler o livro, e já explico o motivo.

Tenho o privilégio de ter trabalhado com indivíduos que já perderam casamentos, famílias, empregos, amizades devido a simples “mal-entendidos”, e uma das principais causas desses incidentes foi a insuficiência de informações. O ser humano, por natureza, quando tem défice de informação procura preencher essa lacuna com a informação que lhe for mais conveniente e que for de encontro com aquilo que ele quer perceber ou quer que seja verdade.

Por outro lado, enquanto a escassez gera ambiguidades e mal-entendidos, o excesso cansa, transmite falta de auto-controle, mancha a percepção de poder que os nossos interlocutores têm sobre nós e ainda reduz drasticamente a nossa credibilidade. E acredite, não escreveria nada do que acabei de dizer se não tivesse experimentado cada uma dessas situações, inclusive a de ser um fanfarrão.

O episódio da introdução de 18 minutos fez-me perceber que podemos olhar para a Quarta Regra do Poder de outra forma: tal como somos recomendados a mirar para a lua, de forma que caso não consigamos chegar pelo menos estejamos entre as estrelas, pode ser aceitável colocar como directriz a ideia de dizermos menos do que o necessário para que, no mínimo, já que gostamos e somos sempre tentados a falar demais, falemos exactamente o que basta.

É importante chamar a atenção para o facto de que, por vezes, podemos encontrar auditórios ou espectadores muito educados, que sorriem e aplaudem tudo o que vamos dizendo, ainda que estejamos a ser excessivos e isso pode levar-nos a pensar, erradamente, que não há problemas em falarmos demais quando trata-se apenas de cordialidade.

Um provérbio árabe já nos chama a atenção: “não digas tudo o que sabes, porque quem diz tudo o que sabe acaba por dizer o que não sabe”, e bem sabemos que no calor da emoção é possível até inventar uma máquina do tempo que nunca existiu. A vantagem é que inventamos uma máquina por alguns minutos, mas perdemos o respeito e a influência sobre o nosso público e isso pode ser por toda uma eternidade.

Portanto, a próxima vez que for falar, seja em público como não, no lugar de correr o risco de dizer o que não sabe por querer dizer tudo o que sabe, escolha falar somente o necessário e manter o silêncio para escutar os outros, porque assim não só aprende mais como preserva a sua reputação e autoridade sobre o seu auditório.

 

 

Inspiremos. Desenvolvamos. Transformemos!